PESQUISE NO BLOG

Frei TITO

MEMÓRIA

A juventude de Frei TitoHá 32 anos, o Frei Tito de Alencar Lima foi encontrado morto na França. Era o fim de um período de sofrimento para o cearense que fora preso e torturado pela Ditadura Militar. Um pouco da tranjetória desta personalidade nos é lembrada pela jornalista Socorro Acioli

Socorro AcioliEspecial para O POVO

10/08/2006 00:02

No dia 10 de agosto de 1974, o corpo do frade cearense Tito de Alencar Lima foi encontrado nas proximidades de Arbresle, sul da França, pendurado por uma corda nos galhos de um álamo. Frade dominicano, cearense, preso injustamente, torturado sem piedade, atormentado até a morte pela voz dos torturadores. Trinta e dois anos depois, a cena trágica da sua morte é suficientemente forte para que não seja esquecida. Mas o Brasil precisa mesmo, mais que nunca, relembrar a energia e lucidez da juventude de Frei Tito, que acreditava no poder da mobilização para mudar os rumos do País. Na falta de ídolos com idéias e ideais, diante de tantos enganos políticos, corrupção, violência, não podemos culpar nossos jovens por estarem tão distantes do engajamento da juventude contemporânea de Frei Tito. São outros tempos, outras idéias, outros ídolos. O jovem Tito passava os finais de semana envolvido com as atividades da Juventude Estudantil Católica, um dos braços da Ação Católica no Brasil, que reunia e convidava os jovens para "ver, julgar e agir". Frei Tito via. Visitava comunidades pobres, favelas, conhecia as injustiças de perto. Observava, sentia tristeza e buscava soluções. Sentia-se tocado pelo sofrimento de seus irmãos e lutava para mudar aquela realidade. Frei Tito julgava. Dedicava os finais de semana ao estudo de obras clássicas de economia, sociologia, história, filosofia, sob a sombra das mangueiras da casa do amigo Roberto Pontes e dos amigos da JEC, lendo Fernando Pessoa, Casimiro de Abreu, estudando e sentindo o caminho para a ação. Frei Tito agia. Pensava nas soluções para o seu País. Escrevia pequenos tratados sobre educação e política. Atuou quando foi necessário, trabalhou pelo movimento estudantil e contra a Ditadura Militar, até ser castigado injustamente por ela e morrer sozinho em terra estrangeira. É necessário e urgente contar essa história para os jovens. Mas falar da Ditadura Militar brasileira, da tortura e morte dos militantes, é sem dúvida um desafio para pais e educadores. Como falar para nossos alunos e filhos que muitos brasileiros foram torturados até morrer, simplesmente porque não tinham o direito de falar contra o seu governo? Como explicar que alguns destes torturadores estão entre nós, trabalhando, candidatando-se a cargos políticos, vivendo sem lembrar do rastro de sangue que deixaram para trás? Como explicar que Frei Tito foi preso e sofreu tanto nas mãos dos seus algozes somente por ter conseguido um sítio para uma reunião de estudantes? Professores e pais cearenses têm a sorte de contar com o Memorial Frei Tito, no Museu do Ceará. Idealizado e montado por Régis Lopes, historiador e diretor do Museu, e Lúcia Alencar, sobrinha de Frei Tito, o Memorial expõe documentos, fotos e objetos pessoais de Frei Tito, trazendo sua presença para perto de nós. Uma das fotos em exposição mostra os jovens presos no Congresso de Ibiúna, São Paulo, quando a Ditadura Militar não permitia nenhum tipo de reunião ou agremiação, justamente o momento que determinou a prisão e o começo do sofrimento de Frei Tito. Passear pelas paredes vermelhas do Memorial Frei Tito com um grupo de adolescentes é despertar uma série de perguntas que eles precisam elaborar e responder, compreendendo o passado do país. Como pesquisadora da vida de Frei Tito, vivo há seis anos o desafio de reconstruir sua vida para contá-la depois, na biografia completa e volumosa que ele merece e que os leitores merecem. Precisamos deixar essa história registrada, para que os jovens de hoje e de amanhã conheçam os passos deste homem, que acreditava no Evangelho, nas mudanças da sociedade, mas que tinha plena consciência de que nada aconteceria sem o esforço de cada um, desde cedo, vendo, julgando e agindo. Socorro Acioli é jornalista e escritora. É autora do livro Frei Tito da Coleção Terra Bárbara, Edições Demócrito Rocha e do blog: freitito.blogspot.com. Qualquer informação sobre a trajetória do jovem Tito, pessoas que conviveram com ele e sua família, podem entrar em contato pelo e-mail: socorroacioli@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário

AS 3 MAIS ACESSADAS DA SEMANA

GALERIA DE AMIGOS